quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eu só quero chocolate

Abril é o mês da páscoa - e não podia haver época melhor para falar sobre um ingrediente tão fascinante como o chocolate. Lineu, o famoso botânico que criou o sistema de classificação em espécies das plantas, não podia ter escolhido nome melhor para o cacaueiro: Theobrama, que em latim quer dizer "alimento divino". A história do chocolate tem conotações místicas e sangrentas, e tem papel importantíssimo na história da América Central.
Os primeiros registros sobre o chocolate remonta ao período dos maias- os primeiros a ocuparem a península de Yucatán, no México. As favas do cacau eram fermentadas, grelhadas, moídas e misturadas com mel, pimenta e fécula de milho para produzir uma bebida fria denominada chacau haa. Mas foi na época dos astecas que a civilização ocidental entrou em contato com o cacau e daí sua popularização não parou. Para os astecas, as favas do cacau eram tão preciosas que constituíam a moeda local- um escravo poderia ser comprados por 100 favas, por exemplo.
Cristóvão Colombo e sua trupe provavelmente foram os primeiros a provarem o chocolate, mas não deram lá muita bola... Quem trouxe o chocolate para o ocidente foi o conquistador espanhol Hernán Cortéz. Ao chegar no México em 1519 foi saudado calorosamente pelo imperador Montezuma, que acreditava ser o espanhol a personificação do mais poderoso dos deuses astecas, Quetzalcátl. Naquela época, o chocolate era servido como uma bebida sagrada, restrita apenas à nobreza e para fins ritualísticos. Chamada de xocolatl (de xocolli, amargo e atl, água), era perfumado com musk, canela e pimenta. Diz a lenda que Montezuma a bebia em cálices de ouro "descartáveis": o cálice era jogado fora todas as vezes que a bebida terminava, para demontrar que o chocolate era mais valiosa que o ouro. Claro que tudo isso despertou a curiosidade de Cortéz, e quando sua busca pelo ouro asteca não foi bem sucedida, o conquistador voltou seus interesses para o dinheiro que crescia em árvores. Montezuma foi assassinado e grande parte da população asteca dizimada, e Cortéz resolveu plantar o cacau nas ilhas tropicais que já havia conquistado (Trinidad e Haiti) e em alguns países da África, e assim, por muito tempo a Espanha deteve o monopólio do comércio do cacau.
Foi então na Espanha que começou a ocidentalização do chocolate: a bebida passou a ser tomada quente e foi adoçada com açúcar de cana e podia ser aromatizada com flor de laranjeira, avelãs, amêndoas e engrossada com gemas. As "casas de chocolate" viram febre, e não demoram a chamar atenção de outros países. Quando o chocolate chega à Itália, como um presente à Ferdinando de Médicis (os indefectíveis!) a choco-mania ganha corpo, e Turim vira o maior centro de produção de chocolate da Europa. E todos os países querem suas colônias com plantações de cacau...
Somente no século XVIII o chocolate passa a ser usado em confeitaria, e não apenas como bebida. E assim surgem pains au chocolat, sachetortes, opéras...E no século XIX a revolução industrial chega ao chocolate, e o uso das máquinas torna o alimento mais acessível e popular, e Henri Nestlé inventa a primeira barra de chocolate ao leite em 1875.
Chocolate, além de delicioso está associado a múltiplos benefícios à saúde: alivia a depressão, diminui a pressão arterial, previne ataques cardíacos, promove a felicidade e diminui a dor. Tá bom pra você?

Chocolate quente com especiarias

200 ml de leite integral
1/4 fava de baunilha
uma pitada de especiarias da sua escolha (eu uso: canela, noz moscada, cardamomo, chilli em pó e allspice)
2 col chá de cacau em pó 100%
2 col de chá raspas de chocolate meio amargo
2 col de chá raspas de chocolate ao leite (se você preferir a bebida mais doce, use apenas chocolate ao leite)
1 gema

Leve à fervura o leite junto com as especiarias e a fava de baunilha. Apague o fogo, junte os chocolates e mexa até derreter. Numa tigela bata a gema com um fouet por 2 minutos até encorpar. Despeje 1/4 do leite quente na gema batida e mexa sem parar até incorporar tudo. Despeje a mistura do leite e gema na panela com o restante do leite. Leve ao fogo baixo por cerca de 2 minutos, mexendo sempre, até engrossar levemente.
Sitva quente.

*rendimento: 1 porção