terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sou perista e não nego!

No cardápio de sobremesa tem alguma coisa de pêra? Se sim, então existe uma enorme chance de que seja a minha pedida. Acho que de alguma maneira isso acontece por um certo "trauma" de infância. A primeira vez que viajei para fora do país tinha 10 anos e minha mãe me levou pra Europa. Minha tia na época morava em Londres e visitamos a Inglaterra, França e Áustria. Estudei numa escola francesa, e sempre me senti muito ligada com toda sua cultura. Mas quando cheguei na França fiquei muito chocada. A cidade era muito suja, as pessoas tomavam sol de topless à margem do Sena, mulheres tomavam banhos na pia de banheiros públicos... Não era a imagem que eu tinha de uma Paris glamurosa. Hoje, tenho uma idéia totalmente diferente, e pra mim não existe outra cidade como Paris. Mas naquela época foi uma grande decepção. Menos a comida. Imaginem que quando era pequena era insuportável para comer. Tanto que minha mãe me dava sanduíches e eu escondia debaixo do sofá. Até o dia que ela descobriu e eu passei a jogar os sanduíches pela janela!
Minha relação com a comida começou a melhorar só lá pelos 8-9 anos... Então eu estava descobrindo o meu paladar. E fui começar a descobrir mesmo em Paris- acho que foi isso que me estragou e me deixou obsessiva por comida.... Depois que você come uma baguete verdadeira, quentinha, com um naco de manteiga francesa e toma um chocolate quente feito de chocolate de verdade...não tem como suas papilas gustativas não gritarem e se multiplicarem. Até de fígado eu comecei a gostar nessa viagem. Era uma salada com um fígado de frango no ponto ainda rosado no meio. Haddock pocheado no leite... Esses dois saboreados num mini bistrô: Au Diable des Lombards. E o croque monsieur que comi no museu Rodin? Olhava a mulher tirar com a mão aquele monte de gruyère ralado de dentro do béchamel... Até hoje nunca comi um croque tão bom! Agora o que é inesquecível mesmo pra mim é uma torta de pêra que comi não-sei-onde. A melhor da vida! Uma massinha amanteigada com um creme de amêndoas delicado e uma pêra suculenta... Ninguém se lembra o endereço ou o nome da tal boulangerie. Desde então venho em busca da torta de pêra perfeita. Há uns 4 anos, em Paris para um congresso, fiquei nos dois primeiros dias num hotel em montmartre. No dia da chegada, à noite e muito cansada, perambulei pelos arredores do hotel e acabei numa portinha barulhenta e esfumaçada onde comi o melhor cordeiro e uma torta de pêra quase igual a da minha infância... Saí de lá tonta- pelo cansaço, pelo barulho e pelo êxtase de ter quase completado minha missão. Mas no dia seguinte não consegui mais achar o restaurante! Em nenhuma das outras vezes que fui à Paris consegui achar a tal da torta... Nem mesmo com a ajuda de um primo que fazia Cordon Bleu de confeitaria e estava morando por lá.
E então eis que esse ano,o caderno Paladar do Estadão elege como a melhor sobremesa de São Paulo uma sobremesa de pêra, do restaurante Arturito. Tinha acabado de fazer a minha torta de pêra (a que até hoje mais se pareceu com a da minha infância) quando combinei um jantar com uma amiga muito querida que não via há anos. Pra minha supresa ela também adora torta de pêra e estava querendo uma receita. Mas primeiro tínhamos que provar a tal da sobremesa. E se minha busca acabasse? Muito papo e chega enfim a hora da sobremesa. Olhamos pro garçom e pedimos a sobremesa de pêra. Ele então traz apenas uma para dividirmos, achando que éramos mocinhas elegantes- ledo engano: uma grávida e uma gulosa aficcionadas pela tal frutinha!- pra não chocar o staff, combinamos dividir e depois pedir outra. O tal prato consiste em quartos de pêra caramelados sobre um biscoito sablé, finas fatias de queijo manchego, uma calda com baunilha e soba trufada. O que dizer? É uma boa sobremesa. O sablé estava maravilhoso, bem amanteigado, derretia na boca. A pêra, bem caramelada (se bem que minha amiga achou um pouco estranha... talvez pela soba). Mas daí a ser a melhor sobremesa... Um exagero. Lá mesmo, o pain perdu de brioche dá de 1.000- e foi nosso repeteco ! afffff!
Até agora, aqui em São Paulo a melhor torta de pêra é a do Le Jazz.
É... pelo visto, a busca continua...

Torta de pêra com avelãs

massa (pâte sucrée)
200g manteiga sem sal (retirar da geladeira uns 15 min antes) em cubos
1/2 xic açúcar
1/2 col chá sal
2 gemas
3 xic farinha de trigo
2 col sopa creme de leite
Bata a manteiga na batedeira na velocidade baixa por 2-3 min (até ficar cremosa). Adicione o açúcar e bata mais 3o segundos
Adicione o sal e as gemas- uma de cada vez.
Adicione a farinha até ser incorporada e por fim o creme de leite- bata por mais 3o segundos.
Embrulhe num filme plástico e leve à geladeira por pelo menos 2h (até 3d na geladeira e 1m no freezer)
Retire da geladeira e forre o fundo de uma forma. Leve a forma à geladeira até utilização.
*rende massa para 2 tortas médias

pêra
5 pêras maduras
3 xic de água
1 xic açúcar
raspas de 1/2 limão sililiano
Descasque as pêras e leve tudo ao fogo até que fique macia e transparente. Retire do fogo, corte na metade e retire o miolo. Reserve.

creme avelãs
135g manteiga em cubos T ambiente
165g açúcar confeiteiro
10g amido milho
165g avelã (ou amêndoa- fica mais delicado)
2 ovos
1 col sopa rum
200ml creme de leite fresco
Numa tigela, bata a manteiga com uma espátula até ficar cremosa. Junte todos os ingredientes secos. Acrescente um ovo de cada vez, o rum e por fim o creme de leite. Cubra com filme e leve à geladeira pelo menos 4h- pode ficar até 3d.

Montagem
Retire a massa e o creme da geladeira. Cubra a massa com o creme e disponha as metades das pêras num arranjo circular. No caso dessa torta não é necessário assar a massa antes. Leve ao forno médio por cerca de 40 min- até a superfície estar bem dourada.
Sirva ainda morna.
Para dar um brilho na superfície da torta, aqueça um pouco de geléia de damasco e pincele ainda morna.

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